Empresa chinesa é pioneira ao dar bônus por quilometragem no trabalho aos funcionários a partir de quilômetros percorridos mensalmente: entenda o modelo e o que RH pode aprender.
Imagine receber um aumento salarial por algo que você faz fora do escritório: correr ou caminhar. É exatamente essa a política de bônus radical que transformou uma fábrica de papel na China em um estudo de caso global sobre incentivo à saúde no trabalho, produtividade e engajamento.
Na cidade de Dongguan, província de Guangdong, a Dongpo Paper Company (uma empresa de manufatura) cancelou seus tradicionais bônus de fim de ano para implementar um sistema de remuneração variável baseado estritamente na atividade física dos colaboradores. O objetivo? Colaboradores mais saudáveis, uma empresa mais forte.
O inusitado modelo foi idealizado pelo CEO, Lin Zhiyong, um entusiasta do montanhismo que já escalou o Monte Everest e que defende a máxima: “A empresa só poderá durar enquanto os funcionários estiverem saudáveis.” A medida rapidamente chamou a atenção, gerando debates acalorados sobre a linha tênue entre incentivo e pressão no ambiente corporativo.
Como Funciona o Sistema de Bônus por Quilometragem?
O sistema de bônus por quilometragem no trabalho é surpreendentemente claro e utiliza aplicativos de corrida, como o chinês Gudong, para monitorar e validar o esforço de cada funcionário.
- As Metas de Corrida (o principal incentivo):
- 30 km em um mês: Bônus de 30% do salário.
- 40 km em um mês: Bônus de 60% do salário.
- 50 km em um mês: Bônus de 100% do salário (salário dobrado!).
- 100 km em um mês: Bônus de 130% do salário.
- Recompensa de Longo Prazo: Quem completa 50 km por mês durante seis meses consecutivos ganha um par de tênis de corrida de presente.
Modalidades Alternativas e a Matemática do Esforço
O programa não é restrito apenas à corrida, reconhecendo que a saúde e a aptidão física variam entre os trabalhadores. São admitidas caminhada e alpinismo (montanhismo), porém, com uma equivalência de distância ajustada:
- Caminhada: Um quilômetro caminhado equivale a um terço do que é contado na corrida.
- Alpinismo: Um quilômetro de alpinismo (ou trilha em montanha) equivale a apenas um sexto da distância percorrida correndo.
Essa diferenciação estimula os funcionários a se superarem, dando mais peso à modalidade que exige maior condicionamento físico.
Análise: Produtividade e Bem-Estar na Pista de Corrida
O caso chinês se insere no contexto global dos chamados corporate wellness programs (programas de wellness corporativo ou bem-estar no trabalho), que visam transformar a saúde dos colaboradores em um ativo estratégico.
Benefícios Para a Empresa e o RH
Empresas que investem em programas de bem-estar colhem frutos comprovados, e o modelo da Dongpo Paper eleva o patamar desse investimento:
- Redução do Absenteísmo: Funcionários mais ativos tendem a ficar menos doentes. Pesquisas globais indicam que o absenteísmo pode ser reduzido em até 19% com colaboradores mais saudáveis.
- Aumento da Produtividade Funcionários Esporte: Estudos da Harvard Business Review já apontaram que empresas com programas de bem-estar observam um aumento de 31% na produtividade. O exercício físico melhora a concentração, o humor e a capacidade de resolução de problemas.
- Engajamento e Cultura: A iniciativa cria um forte senso de comunidade, com grupos de corrida surgindo espontaneamente e colegas se incentivando. O gerente de negócios Zhou Jian, por exemplo, relatou que começou a correr por incentivo do chefe, controlando com sucesso seus níveis elevados de açúcar no sangue.
Críticas e Desafios do Modelo Chinês
Apesar dos resultados positivos, a política gera polêmica, levantando questões cruciais para o RH brasileiro:
- Pressão Excessiva: A maior crítica é a possibilidade de o bônus se tornar uma pressão física e psicológica, onde a participação se torna obrigatória para não perder uma parte significativa da remuneração potencial (o “salário dobrado”).
- Risco de Lesões: Forçar funcionários que nunca praticaram esportes a correrem distâncias elevadas rapidamente pode aumentar o risco de lesões.
- Desigualdade: O sistema pode ser inerentemente desigual, penalizando trabalhadores mais velhos, com condições médicas pré-existentes ou menos aptos fisicamente, em comparação com os jovens e atléticos. O conceito de incentivo à saúde no trabalho não pode se converter em um fator de exclusão.
Implicações para o Brasil: O que o RH Pode Aprender?
O modelo chinês de bônus por quilometragem no trabalho é ousado e provavelmente impraticável em sua forma literal no contexto trabalhista e cultural do Brasil. No entanto, ele oferece lições valiosas para gestores de RH:
- Valorizar a Saúde Como Métrica de Desempenho: A ideia central é que a saúde do funcionário é um fator de desempenho e deve ser valorizada financeiramente.
- Incentivos Financeiros Fortes: Para que um programa de bem-estar decole e gere resultados significativos, o incentivo deve ser robusto. Programas de reembolso de academia ou planos de saúde premium, por vezes, são insuficientes.
- Diversidade e Flexibilidade: Qualquer programa brasileiro precisaria de adaptações para ser mais inclusivo, focando na jornada de bem-estar individual e não apenas na quilometragem.
- Adaptações Essenciais: Incluir modalidades de baixo impacto (natação, yoga, pilates), recompensar o esforço de forma mais proporcional ao ponto de partida de cada um (ex: bônus por melhoria no tempo ou por frequência semanal), e garantir opções para quem não pode praticar atividades físicas intensas.
Reflexão para o RH: O desafio não é replicar o modelo, mas sim encontrar uma fórmula que use o poder do incentivo financeiro para promover um estilo de vida saudável de forma justa e segura, tratando a saúde não como uma meta, mas como um suporte para a performance.
Conclusão: Estímulo Saudável ou Pressão Desmedida?
A Dongpo Paper Co., sob a liderança de Lin Zhiyong, acendeu um debate global sobre a relação entre remuneração, produtividade funcionários esporte e bem-estar. A iniciativa comprova que um incentivo financeiro significativo pode transformar a cultura corporativa da noite para o dia, reduzindo a inércia e impulsionando a saúde.
No entanto, ela também serve como um alerta: o bem-estar corporativo precisa ser um ato de cuidado, e não uma nova forma de pressão por desempenho que discrimine ou coloque a saúde dos colaboradores em risco.
E na sua empresa? Esse tipo de modelo, com as devidas adaptações, seria viável? Você considera um bônus atrelado à atividade física como justo ou arriscado?
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